Tanto no ambiente pessoal quanto corporativo, todos nós já enfrentamos ou enfrentaremos uma situação insatisfatória. A insatisfação é um sentimento interior que uma pessoa sente quando suas expectativas não são atendidas. Este tipo de sentimento mostra um nível de desencanto pessoal causado pela frustração de não cumprir com algum dos seus desejos. A maneira como lidamos com ela, tem uma influência muito grande no ambiente que estamos inseridos e nas pessoas de nosso convívio. Lidar com uma situação insatisfatória significa tomar uma decisão a respeito. Termos a atitude de nos posicionarmos. O certo ou o errado vai depender de cada contexto e da posição existencial de cada indivíduo.
No capítulo 3 do excelente: ORIGINAIS – Como os inconformistas mudam o mundo, de Adam Grant, o autor resgata de um livro clássico do economista Albert Hirschman que podemos considerar a existência de quatro formas de lidar com uma situação insatisfatória. Seja qual for sua fonte de insatisfação – o emprego, o casamento ou até mesmo o governo -, décadas de pesquisa mostram que você tem uma escolha entre: desistir, negligenciar, persistir ou discutir.
Desistir significa retirar-se em definitivo da situação: demitir-se de um emprego indesejado, dar fim a um casamento abusivo ou emigrar de um país opressor. Discutir envolve tentar ativamente melhorar a situação: apresentar ideias ao chefe para aprimorar o trabalho, incentivar o cônjuge a fazer uma terapia ou tornar-se um ativista político que lute pela eleição de um governo menos corrupto. Persistir é ranger os dentes e aguentar: trabalhar duro mesmo em um emprego sufocante, manter-se firme no casamento ou tolerar um governo do qual discorda. Negligenciar também envolve permanecer na mesma situação, mas reduzindo o esforço necessário para isso: fazer no trabalho somente o suficiente para não ser demitido, adotar novos hobbies que o mantenha longe de casa – e do cônjuge – ou recusar-se a votar.
Essas escolhas se baseiam fundamentalmente em sentimentos de poder e compromisso. Você acha que consegue mudar alguma coisa e se importar com ela o suficiente para tentar? Se achar que nada pode ser feito para mudar o status quo, você vai escolher “negligenciar” quando não houver um sentido de compromisso, e “persistir” quando ele estiver presente. Se achar que pode fazer a diferença, mas não estiver comprometido com a organização, desistirá. Somente quando acreditar que suas ações têm relevância e se importar profundamente é que considerará a opção de discutir.
Ao escolher desistir ou negligenciar você sempre prejudica a organização (se você desistir e pedir demissão, você até pode mudar a situação, mas apenas para você). Já ao escolher persistir você não prejudica a organização, mas também não muda a situação. Só quem assume uma atitude de discutir em busca de transformar o status quo, beneficia a organização e afeta positivamente todos em volta.
Retomando Adam Grant, em seu livro “Originais: Como os inconformistas mudam o mundo”, o autor sugere: se você está tentando soltar as amarras e “discutir”, aqui estão algumas das medidas práticas propostas e possíveis de serem tomadas.
- Questione o saber convencional. Em vez de presumir que o status quo está certo, pergunte por que ele existe. Quando você leva em conta que regras e sistemas foram criados por pessoas, fica claro que elas não são inquestionáveis – e nesse momento você passa a considerar formas de aprimorá-las.
- Motive-se de forma diferente se estiver comprometido ou inseguro. Quando estiver determinado a agir, concentre-se em quanto falta avançar – isso o encherá de energia para concluir o percurso. Quando sua convicção fraquejar, pense no progresso já feito. Tendo chegado tão longe, como poderia desistir agora?
- Não contrate com base na adequação à cultura, mas na contribuição para a cultura. Quando priorizam a adequação cultural, os líderes acabam contratando pessoas com pensamento semelhante. A discussão construtiva não vem das pessoas capazes de combinar com a sua cultura, mas daquelas capazes de a enriquecerem.
- Pare de nomear falsos advogados do diabo e comece a descobrir os verdadeiros. Opiniões divergentes são úteis até quando estão erradas, mas só são eficazes quando autênticas e consistentes. Em vez de escolher pessoas para fazerem o papel de “advogado do diabo”, encontre aquelas com, de fato, opiniões minoritárias e convide-as a expor seus pontos de vista.
- Lembre-se: se você não tomar a iniciativa, o status quo permanecerá o mesmo. Pense nas quatro reações possíveis à insatisfação: desistir, discutir, persistir ou negligenciar. Apenas desistir e discutir poderão melhorar sua situação. Discutir pode ser o melhor caminho se você tiver algum controle sobre a situação. Caso contrário, pode ser a hora de pensar em formas de ampliar sua influência – ou desistir.
Conclusão
Algum nível de insatisfação é extremamente benéfico para nós, pois impede o automatismo. A insatisfação é ruim quando está vinculada a uma busca desenfreada. Se por um lado estar insatisfeito leva o indivíduo a se aprimorar e buscar outros caminhos, por outro é capaz de promover um descontentamento permanente. Devemos, então, viver insatisfeitos para nos mantermos vivos? Esse é um tema recorrente em ambientes empresariais, nas escolas de negócio, nas denúncias da imprensa sobre os desmandos políticos. A insatisfação mobiliza, energiza as ações diversas, promove mudanças, conquistas e, consequentemente, realizações. Somos seres insatisfeitos por natureza, o que não apenas nos manteve vivos até aqui como promoveu nossa evolução e nosso progresso. A satisfação é um prazer provisório, transitório, e é também necessário. A insatisfação é desconfortável, às vezes angustiante, mas também é necessária, e é do movimento dessa gangorra que tiramos nossa essência.
E quanto a você? Já optou por um dos 4 comportamentos para lidar com sua situação de insatisfação de agora?